Em tempos tão violentos é preciso refletir sobre Ahimsa- a não violência.

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Em sânscrito Himsa significa violência, a letra “A” surge como negação. Desta forma, traduz-se Ahimsa como “Não violência”. O primeiro dos YAMAS (“controle”, condutas morais/éticas, a serem internalizadas e vivenciadas pelo yogi), Ahimsa abrange o sentido da compaixão, empatia, generosidade, respeito e amor por todos os seres vivos.

Partindo do pressuposto que somos um “espelho” nesta existência e que a forma como nos tratamos reflete diretamente em como tratamos os demais, não podemos esperar um mundo menos violento agindo com violência consigo mesmo.

Para tal, é preciso praticar a auto investigação. Quais são os seus limites emocionais, físicos, alimentares? O que fere o seu coração, o que dói enxergar, ouvir, falar, pensar…? São condicionamentos que permeiam o campo denso e sutil. Ahimsa é agir com não violência em pensamentos, palavras e ações.

Uma frase coerente é “Não fazer com os outros o que eu não gostaria que fizessem comigo”. Entretanto, nenhum Yama e Nyama será verdadeiro se imposto à força por terceiros. Talvez este seja o 1º passo para entender Ahimsa.

 Tudo que é forçado, não é compreendido e sem compreensão de mim, do mundo a minha volta e de que não há divisão entre eu (Atman) e o todo (Brahman), o conhecimento não é despertado.

Se eu me firo, eu vou ferir o outro. Se eu ferir o outro, irei me ferir. Apesar de haver identificação diária com a “dualidade dos objetos”, somos em essência inteiramente UM. Somos o sujeito, a consciência.

Segundo Vedanta, Ahimsa é um dos vinte valores que nossa mente precisa estar desperta para que possamos ter o feliz contato com o conhecimento. Caso contrário, este não será compreendido e tampouco repassado para a vida prática.

A evolução espiritual em si não está na dieta vegetariana. Está na intenção deste ser humano por trás de suas ações diárias. O que nos difere de animais é o poder de discernimento e de escolha.

De fato, existe a argumentação de que os animais têm a sua própria cadeia alimentícia, se nutrindo de outros animais. Entretanto, os animais vivem com o instinto de sobrevivência os guiando. Somos consciência e por isso, segundo os Vedas, devemos usá-la a fim de não causar danos, destruição, dor, a qualquer parte da Criação, a qual também fazemos parte.

Patanjali afirma no sutra 2.35 que na presença de um ser nutrido de não violência, sobrevém o abandono da hostilidade, da raiva e agressividade. Vivendo em Ahimsa, vibrando generosidade, abre-se a porta para uma vida mais leve, empática e feliz.

Ao se deparar com o contrário – com pessoas com condicionamentos violentos, o sábio retruca com amor, acolhendo os seres do jeito que são pois, não há relacionamento pessoal com ninguém, sendo livre de identificações e dores.

Repassar o valor de Ahimsa nas aulas de Yoga é acender a chama da consciência. Inicia no campo denso, a partir do corpo, da prática de Asanas, frisando que podemos e devemos ser acolhidos e abraçados. Ahimsa é reconhecer que nosso corpo é a nossa casa, nosso templo, nosso lar e precisa ser tradado como qual: com muito amor e respeito.

Existe um limite tênue entre tapas, austeridade, constância e a cobrança excessiva, que leva à violência consigo mesmo. O yogui que através da prática percebe qual linha de Yoga se encaixa a sua realidade e perfil ganha a intensa liberdade através de uma disciplina saudável. A partir daí, as portas para a devoção são abertas. Começa o verdadeiro sentimento de uma vida em Yoga, onde há amor, entrega, cura e felicidade.

Texto: Renata Meire

Referências Bibliográficas:

Swami Dayananda Saraswati, O Valor dos Valores; 2ª Edição revisada, Rio de Janeiro: Vidya Mandir, 2014.

Gloria Arieira, O Yoga que conduz à plenitude, Os Yoga Sutras de Patãnjali, Rio de Janeiro, Sextante: 2017.

Pedro Kupfer: De Volta ao Básico: 5 Yamas e 5 Niyamas | Ética | Pedro Kupfer | Yoga.pro;