YOGA: Os meios são muitos mas o conhecimento é um

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O Yoga é um dos seis sistemas do pensamento indiano, conhecido como Darsanas– que pode ser traduzido como “visão, ponto de vista, forma de ver a vida”. Os outros cinco são nyasa, samkhya, vaisesika, mimamsa e vedanda.

No Ocidente a prática postural do Yoga teve muita evidência e com isso, em um primeiro momento, muitos acreditam que a disciplina do yoguin se resume somente aos Asanas. Contudo, existem muitos outros meios para se chegar ao estado de Yoga.

Por que uma pessoa é mais inclinada para música e outra para exatas? Por que uns nascem com facilidade para atividades aquáticas e outros repudiam água? Nossas distinções, muitas vezes inatas, mostram claramente nossas predisposições.

A tradição diz que em essência somos iguais mas nossa personalidade e história de vida nos apontam inúmeras diferenças e tendências. Desta forma, cada um de nós terá uma identificação maior em determinada área. Temos inúmeras impressões inconscientes (samskaras) que vão criando condicionamentos (vasanas). Tais “preferências” vão se acumulando ao longo da vida ou até mesmo, de outras vidas.

No texto clássico Bhagavagd Gita são citados cerca de dezoito linhas de Yoga. Esta classificação não tem o intuito de dividir, competir e dizer quem é melhor ou pior. As diferentes formas são meios distintos para compreender melhor o Yoga. Abaixo irei listar 5 tipos de Yoga, dentro da tradição védica:

Bhakti Yoga

A palavra “bhaj” significa servir. Esta servidão é voltada para uma “uma força maior” que nós mesmos. Em qualquer situação, pessoa e/ou circunstância o devoto enxerga o divino. Em Bhakti Yoga tudo é oferecido a Ishara, com total devoção. O 5ª nyama Ishara Pranidhana (entrega ao divino) simboliza uma vida em Bhakti Yoga. Geralmente são entoados mantras, leituras de escrituras sagradas, adoração por deidades e pujas.

Karma Yoga

Karma significa ação. O verdadeiro yogui já renunciou aos resultados e sabe, conscientemente, que não tem controle sobre eles. Todavia, pode ter uma parcela de domínio sobre as suas próprias atitudes. Nem sempre as ações saem como planejamos. O próprio esforço em si, muitas vezes é imperfeito. Então, vamos mais a fundo. O que vale não é o resultado e nem a ação de maneira “nua e crua” e sim, a intenção por traz da ação. Quem vive em Karma Yoga procura focar em ações colaborativas, visando um ganho coletivo. O resultado, está nas mãos do divino.

Jnana Yoga

A palavra jnana significa conhecimento. Jana Yoga mostra a verdadeira busca pelo conhecimento. Este caminho acontece ouvindo um professor, refletindo, contemplando e meditando sobre o assunto. Este processo leva tempo e dedicação. Jana Yoga diz que todo o conhecimento já está oculto em nós mesmos, só precisamos descobri-lo. O ponto inicial que impede este acesso é a ignorância sobre si mesmo- avidya.

Raja Yoga

Algumas traduções apontam a palavra raja como “real” e outras como “rei”. Em Raja Yoga é dito que existe um rei dentro de cada um de nós. Este fica escondido através de ações cotidianas e das atividades da mente, que é conduzida de diversas formas por impressões sensoriais, memórias e fantasias. Este rei, é purusa- o princípio primordial divino. A ignorância sobre si mesmo (avidya) oculta purusa. O Yoga Sutra de Sri Patanjali diz que quando não há mais inquietação na mente, purusa é revelado.

Hatha Yoga

O Hatha Yoga, mais conhecido pelas práticas posturais carrega um conceito que vale ser considerado e explicado: a energia kundalini. No corpo há inúmeros canais de energia (nadis) por onde o prana (energia vital) percorre. Há textos que apontam cerca de 72.000 nadis mas, inicialmente, nos atentamos a três: pingala nadi, ida nadi e susumna nadi. As três correm ao longo da espinha dorsal.

Susumna, o canal central, move-se de baixo para cima, ao longo da coluna vertebral. Já Ida e Pingala cruzam a coluna algumas vezes pelas costas. Pingala é representada pela narina direita, o sol, o HA. Ida é simbolizada pela narina esquerda, a lua, o THA.

Quando as nadis se cruzam formam centros de energia, conhecido como chakras. Ao longo do corpo temos muitos, mas sete são os mais conhecidos. Localizam-se na base da coluna, acima da base do tronco, a três dedos acima do umbigo, no coração, na garganta, entre as sobrancelhas e no topo da cabeça. A saúde destas “rodas energéticas” tem influência direta no nosso estado sutil e denso, relacionando-se a glândulas endócrinas, plexos nervosos, órgãos de percepção, órgãos internos, estados emocionais, comportamentais e mentais.

Muitas vezes o prana não consegue passagem para o canal central Susumna por conta de bloqueios, conhecidos como “lixos” ou toxinas. Tal obstrução faz com que a energia dissipe do corpo, podendo gerar agitação ou letargia excessiva na mente. Este “fechamento” é representado por uma cobra enrolada na base da coluna- a Kundalini.  De maneira contrária, o fluxo livre de prana em Susumna gera espaço para paz interior, consciência e desenvolvimento espiritual.

Concluindo, existem inúmeros caminhos para se chegar ao estado de Yoga, onde nos reconhecemos sendo plenos, ilimitados, felizes e em paz. Só é preciso escolher qual forma é a mais próxima de nosso entendimento e sensibilidade. O conhecimento é um, os meios são muitos.

Texto: Renata Meire