A relação aluno x professor

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O relacionamento entre aluno x professor no Yoga faz parte de uma tradição. A primeira pergunta que geralmente fazemos ao conhecer um iogue é: Quem é o seu professor? Isso porque o conhecimento é repassado de forma oral, em um sistema de linhagem, chamado “parampara”.

Existe um fundamento nesta forma de transmissão: o respeito ao próprio conhecimento e a tradição védica. Gurus e professores são ferramentas/meios para que o conteúdo seja replicado e preservado da forma mais fidedigna possível.

Todo Guru é um professor, mas nem todo professor é um Guru. O verdadeiro professor irá viver o Yoga e ensinar muito bem. O verdadeiro Guru também, mas com a diferença de ser mestre de si mesmo. Aquele que se conhece em essência e aplica a sabedoria na prática sem dúvidas ou questionamentos. É preciso ter experiência de vida, ser melhor amigo do tempo.

A profissão de professor de Yoga começou a se instaurar comercialmente no século XIX, após influencia inglesa na Índia. No século X, por exemplo, não existia troca monetária por conhecimento. O candidato a aluno precisava ter qualificações necessárias para ser aceito por um professor.

Geralmente o aluno morava perto do professor, onde uma rica relação era estabelecida gradativamente. Nos dias atuais, obviamente, o aluno não é negado em uma escola de Yoga por não ser qualificado, mas é perceptível quando este tem qualidades para receber verdadeiramente o conhecimento. São elas:

– Vontade ardente e genuína sobre autoconhecimento (fogo no cabelo);

– Ter Shraddha– atitude de confiança no professor e na vida;

– Ter Titiksha- capacidade de absorver os desconfortos teóricos e práticos (porque eles irão aparecer);

Quando estudamos a vida de Sri Patañjali (quem compilou o Yoga Sutras cerca de 250 A.C), é percebido que a história dele é explicada em forma de lenda. Alguns dizem que existiu mais de um Patañjali, outros falam que era um grupo de sábios indianos ou até mesmo uma escola.

A condecoração autoral é efêmera nesta tradição, porque o que verdadeiramente importa é o valor pelo conhecimento. Na tradição védica toda forma de criação é uma manifestação da Ordem divina, de Ishvara. O homem em si capta e manifesta. E tal manifestação é destinada para a utilidade e contribuição coletiva e não exclusivamente para si.

Ocidentais geralmente não compreendem a profundidade deste ponto de vista, uma vez que em nossa cultura ainda são valorizados imensamente títulos, enaltecendo unicamente personalidades (podendo gerar uma visão egoica e limitada)- proporcionando mais separação dos homens entre si e com o todo.

Já ouvi de alunos que alguns preceitos do Yoga aparecem em outros lugares com roupagens diferentes. Semana passada vi uma pesquisa americana comprovando benefícios de práticas respiratórias e meditativas (que tinham nomes recriados). Não eram fornecidos de onde vinham e sim o nome e sobrenome dos “criadores” do “novo” método infalível para amenizar a ansiedade.

Respeitar uma tradição milenar é a única forma de preservar a cultura do Yoga, de aceitá-la como ela é, de poder usufruí-la sem devaneios porque sim, ela já foi muito bem estabelecida há cerca de 8.000 mil anos. E estes ensinamentos estão guardados na Índia, mas verdadeiramente, são para o mundo todo.

Todo professor precisa de aluno, sendo seu foco motivacional. O real professor aprende com o aluno. Afinal, perguntas e desafios nos levam a questionamentos, reflexões e crescimento. Dizem que ser professor de Yoga é um “acidente no percurso”. Este nunca pode deixar de ser aluno e continuar aprendendo. Caso contrário, deixa de ser iogue e consequentemente professor.

Ao longo de uma vida em Yoga teremos muitos professores queridos e especiais, mas aquele que conseguir falar diretamente com o seu íntimo, provavelmente será o seu professor, e ele tem uma única e exclusiva função… despertar a consciência ilimitada- aquela que remove a escuridão da ignorância e revela a sabedoria inata de todos os corações.

Hari Om! Namastê

Texto: Renata Meire