Onde você está?

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Inicio o texto de hoje com a sábia frase da querida professora de Vedanta, Gloria Arieira. “Praticar Yoga é firmar-se no compromisso de manter a maturidade no olhar para si mesmo”.

Podemos ir ao passado, vasculhar emoções, entrar em contato com ancestrais, questionar os pais e as vezes até se revoltar (faz parte) mas, se no meio deste processo, não entrarmos em contato com a presença…sempre haverá opacidade e até cegueira.

Exatamente aí entra a profundidade do Yoga. Exatamente aí porque a primeira e melhor pergunta sempre será: Onde você está…?

A cultura védica traz o termo samskara. A tradução significa registro, carimbo, selo. Desde que nascemos vivemos experiências boas e más, e toda esta configuração fica no nosso corpo, na nossa mente, no subconsciente.

Ninguém sai ileso das dores da vida. Elas são legítimas. É preciso compreender, acolher, cuidar, mas acima de tudo, perguntar-se: “Onde eu estou” …? Muitas vezes respondemos o vizinho, o padeiro, o filho, o amigo, o desconhecido ou qualquer pessoa que desperte uma emoção digamos, desafiadora, com o registro de 20 anos atrás. E neste lugar, nada se transforma, tudo se repete.

Na clássica obra literária indiana Bagavadgita é dito que “Yoga é a perfeição na ação”. Não pela nossa perfeição…somos humanos e iremos errar…A perfeição vem da consciência que está por trás de tudo o que fazemos. A perfeição está em saber que não existe outro tempo além do agora para se retratar e pedir desculpas. A perfeição é ter paciência e conseguir acolher as humanidades de um mundo relativo. A perfeição é compreender que nenhuma dor merece ser enaltecida como argumento e transferida para outros.

A prática de Yoga estimula generosamente a presença, que é imprescindível para conseguir enxergar as próprias vulnerabilidades. Enquanto a justificativa de dores e infelicidade for o “outro” tudo se repetirá: de novo, de novo e de novo.

“A Maturidade sobre o olhar para si mesmo”, como disse Gloria, pode trazer incômodos, mas proporciona algo que ninguém vai te dar ou tirar: a autorresponsabilidade sobre as suas ações e, principalmente, reações.
Isso sim é um estado de liberdade.

Texto: Renata Meire